terça-feira, 20 de abril de 2010

Introdução

Eu comecei a fumar aos 16 anos, no terceiro ano do ensino médio. Já ali eu era uma menininha tensa, calada e de roupas punks. Um cigarrinho na porta da escola, outro cigarrinho ali na festa; que legal, eu pareço tão madura, além de ter uma companhia com quem eu não preciso conversar.

Percebi que era dependente ainda naquele ano, quando falei "só mais um" pela terceira vez em menos de uma hora. Ali eu já sabia o que me esperava; sempre soube, na verdade. Quem é que aos 16 anos, hoje em dia, não está informado em relação ao cigarro? Mas continuei. Por mais um ano. E mais um, e mais um...

Hoje tenho 21 anos e faz um dia que estou sem fumar, provavelmente pela décima vez. Por que tantas vezes? Por que não consegui na primeira, ou na segunda? Que fosse na terceira... Mas tentei realmente milhões de vezes, com a licença da hipérbole.

Numa mesa de bar, com os amigos, o cigarro é uma extensão de você e é parte da sua diversão. Se você não fumasse, poderia estar em um lugar fechado, sem problemas. Pergunte a um fumante se ele prefere ficar dentro do bar ou ao ar livre. Ao ar livre é sempre melhor, dá pra fumar e coisa e tal. Mesmo que tenha um toldo e a nova lei anti-fumo te proíba, é só dar uma levantadinha da cadeira e acender o delicioso cigarrinho.

Mas, como eu ia dizendo, ao sentar com os amigos. Ok, acabou o assunto, e agora? Não sei, não é minha obrigação continuar a conversa, eu estou aqui fumando, na minha. E se estiver todo mundo falando de algo chato e que não me interessa, beleza. Estou aqui de boa fumando. Muito bem acompanhada, obrigada.

No início da vida do fumante tudo é uma questão de estética. Você fica linda fumando. Os meninos que fumam parecem muito mais velhos e maduros. Você nem se importa se o cigarro dá ou não prazer. Muitos falam, inclusive, que se obrigaram a fumar, pois achavam o gesto bonito mas não gostavam do gosto. É o que dizem, né, comigo não foi bem assim; me apaixonei de primeira.

Você está preso quando menos espera. Você sabe que é viciante mas não acredita que é "tanto assim". Quando me dei conta, fumava todos os dias, fumava sempre que dava, comprava maços de cigarros só pra mim.

Enfim, um belo dia você está lá, subindo as rampas da sua faculdade... na maior tranquilidade... E percebe que, ao chegar no andar desejado você pode sentir o seu coração na garganta. Está ofegante, a testa levemente úmida. Você sabe. Na hora. ninguém pode fingir que não, ninguém é tão hipócrita. Provavelmente pela primeira vez você leva o pensamento "caramba, eu preciso parar de fumar" a sério. Antes o pensamento até aparecia, mas nunca era urgente. "Tenho que parar, vou parar", mas nunca pára, nunca faz o esforço. Não dá vontade.

Quando se é um fumante regular, as imagens de câncer da internet, a fotografia do pulmão preto atrás do maço, até a sua mãe tagarelando sobre a sua tarefa iminente de parar de fumar, tudo isso passa reto. Você ouve, você vê a fotografia, se sente muito mal na hora. Mas não fica martelando na cabeça. Não nas primeiras vezes.

Depois de uns 3 ou 4 anos de fumante regular, fumando um maço todo dia, comecei a ficar preocupada comigo mesma. É como uma pedra caindo na cabeça de uma hora pra outra, simplesmente acontece, PÁ. Uma epifania de consciência. E, de repente, se torna um assunto recorrente na sua cabeça. E você começa a resolver que vai tentar parar.

Aí pronto, empolgou. Da primeira vez em que tentei, simplesmente achei que fosse conseguir assim, do nada. Parei de fumar. Foram uns 3 ou 4 dias. Voltei de bobeira. E todas as outras, com exceção de uma, que vou relatar ainda, foram idênticas. Você pára, e resolve que vai fumar só um cigarrinho, ou tirar só um trago. Acabou.

Todas as vezes em que me coloquei abruptamente na posição de alguém que não fuma mais, fiquei desesperada. Caraca, não posso mais fumar. Estou proibida. Se eu fumar, vou quebrar algum tipo de pacto que fiz, sem querer, comigo mesma.

E pra sentar no bar sem o cigarro? Todo mundo conversando, e eu faço o que com essa minha mão? Aí compro vários chicletes. Nada a ver. Não faz a menor diferença.

Não adianta se não quiser. É o clichê mais verdadeiro do mundo. Ou você quer muito, faz questão de parar de fumar, ou já era. Não vai parar. Ninguém pára só porque os amigos estão parando, ou porque resolveu que é melhor parar. Não. É necessário que se visualize uma vida sem cigarro, sem o camarada, sem refúgio; é preciso se redescobrir. É preciso ser "Fulana", e não "Fulana, aquela que fuma". É preciso lembrar-se como era viver sem cigarro, como era sair sem cigarro, conversar sem fumar, almoçar e ir fazer suas coisas, ao invés de fazer uma pausa obrigatória.

A única vez em que consegui ficar um (maravilhoso) mês sem fumar, foi ao voltar de uma viagem maravilhosa que fiz; eu estava em plena paz de espírito, feliz comigo mesma, com a minha vida, com as minhas escolhas, com família, amigos... Quando se está muito feliz e se quer dar continuidade a essa felicidade, é muito mais fácil parar de fumar. Porque não se precisa ser completada. Não se precisa de refúgio. O cigarro perde o espaço e a função.

Decidi, na semana passada, que pararia de fumar na segunda-feira dia 19 de abril. Por enquanto eu parei. Fumei meu último cigarro ontem de manhã na faculdade. Hoje não fumei nenhum. Fiquei segurando um cigarro apagado, bebi bastante água e estou tentando permanecer calma e manter minha mente longe do pavor que a idéia de nunca mais fumar traz.

O objetivo deste blog é descrever os meus primeiros dias sem fumar, as minhas dificuldades, mas também as vantagens que eu vou observar. O blog está aberto a quem quer que seja que tenha comentários, sejam fumantes que querem parar, que não querem, que já pararam, ou os que jamais fumaram; qualquer um, sintam-se a vontade.

Um abraço, Caroline.

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. olá, meu nome é Jandira e eu também estou sem fumar. Olha, vou lhe dizer uma coisa: eu sinto a sua dor. Sinto mesmo. Essa situação é severíssima. Já chorei, pedi pra Santo Antônio -que é meu santo de pequena-, botei macumba em beira de estrada, fiquei de 4 na porta da casa da minha tia esperando um sinal... enfim... realmente já fiz de tudo...inclusive fiz cirurgia pra parar, foram três, aliás 7.
    Todo mundo diz que fumante é nojento, sai daqui sua nojenta pra cá, sai daqui sua nojenta pra lá. Foi nessas que parei né.
    Então vou te desejar sorte. Se quiser me liga- 97658550. te adoro

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  3. Então, acho muito bacana você ter coragem para isso!!! Eu nunca fumei mas também tenho uma dependência química que estou tentando largar e sei como é dificil... Várias vezes a gente vê os males que faz, tenta largar de tudo que é forma e acha que vai ser só "uma despedida" do vício e quando vê já era... O Jeito é ser forte e às vezes procurar alguém, preferencialmente bem próximo, que também esteja parando, daí um dá suporte ao outro e não desiste até pra não deixar o outro desistir!!! No começo pode ser bem difícil, mas cada dia que passar tenta olhar pra trás e ver quantos dias já foram... Depois de um tempo você verá quantos meses já se passaram, até que depois de algum tempo você vai poder olhar pra trás, ver como sua saúde e vida em geral melhorou e dizer: "Nem fudendo que eu chego perto dessa merda de novo!"

    Apesar do nickname espalhafatoso do meu perfil google, aqui é o Gabriel Kimelblat (ex-gherman); aquele que estudou contigo no Barilan até você ir pro Eliezer ^^.

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  4. Amiga... vc provou ontem q vc é muito forte!!! parabens.. quem dera se todos os brasileiros tivessem a sua garra e coragem.. uhauhauhuah

    ai ai.. vc nao vai ligar pra marta? ahhaha

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  5. É, cara... Eu não faço a menor idéia de como deve ser isso e mais parece tema de um filme, uma ficção absurda. Estranho imaginar que seja tão difícil (e doloroso) se desprender de uma parada tão (teóricamente) simples. Que maldição!

    Carol, não faço idéia de como ajudar sem ter passado por experiência assim, mas sei lá, cara... Se tiver um modo de ajudar, se tiver algo que realmente faça alguma diferença nisso aí, eu gostaria de fazer.

    Você é uma cabeçuda que eu gosto pra caralho. Mas pra caralho, mesmo! Com o palavrão em destaque!

    =*

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